20.8.06

uma carta de amor

H,

Essa cidade é cansada e exausta. Esse quarto de hotel. Hoje eu comi salmão, tomei vinho bom, mas as pessoas só me bastam. Eu queria você.

Estou que não consigo dormir, hoje já perdi o avião da manhã em Campinas, fui até SP e cá estou em Brasília, essa capital-de-meu-país-tão-distante-que-não-sei.

Tenho saudade de sua voz cantando tanguinhos. De sua voz cantando risadas. Eu queria dormir em você, porque tudo vai ser longo nessa semana. Mas não dá. Não dá. Eu penso no nosso encontro e na hora que a gente vai ser feliz.

Abraço pelado, beijo na boca.

F.

hífen

hoje eu acordei às duas, duas-e-meia com uma voz gostosa de um amigo-que-não-vi-nunca-mais, e ele me chamava pra ir comer sarapatel-feijoada-rabada-baião, eu tinha recém-aberto os olhos e tinha na garganta-boca-cabeça-peito umas bolas de coisas incompreensíveis, e resolvi-que-não, que ia passar o dia fazendo o que tinha que fazer:

jogar papéis-latas-urucas fora
passar um paninho-vassourinha
falar com um-e-outro
arrumar aquelas roupas-sapatos todos jogados
ver se aquele fitoterápico-algo-que-o-valha é bom mesmo pra tpm
baixar uns chicos-caetanos da rede

mas a certa hora, eu não tinha meu sono-fuga, e as urucas-bacas continuaram e então comecei a pensar:

estou só-só.

preciso de alguém. amigo-amor-família-cachorro.

(mas eu falei com alguns. e minha voz parecia ser de outra pessoa, parecia eu encarnando num corpo desconhecido. e quando eu andei pela rua também senti isso. e quando, pela primeira-vez-no-dia falei com alguém pessoalmente, soltei os cachorros-a família-as eleições-a solidão-o corpo-a pobreza-a soberba-a indignação-o medo-a angústia em cima dele, dizendo que eu-quero-o-gerente. e saí com lágrimas-nas-mãos).


daí, eu percebi que o momento era mesmo de me-myself-and-I.

pode ser o começo-da-saída.